terça-feira, 16 de julho de 2013

Dez mil pés

No mais privado dos locais públicos ela permanecia sentada. Que inquietantes questões perpassavam sua cabeça, protegida por longos e negros cabelos, só era possível especular. O olhar profundamente vago causava um interesse espantoso de todos que passavam por aquele banco desconfortável.
Que impacientes receios a afligem? Pensa, enquanto se distrai com o mais simples caminhar desconhecido, nas traições da vida? Recobre-se de dúvidas à procura da sua verdade? Enrola-se no fio que enosa suas mentiras? Busca, em vão, a sua perpétua felicidade? Sabe ela que felicidade eterna não existe?
É o sentido da vida que lhe rouba a tranquilidade, moça dos olhos castanhos? Por que não relaxas enquanto o tempo passa como tem que passar? É a espera que te atordoa e soca o estômago? Ou é o tempo passar que te revolta, põe fim a paciência que um dia te preencheu por completo? A vida não para. Tu bem sabes disso. Nós sabemos. Mas o que te faz dar passos apressados, perdidos de um lado para o outro, isso não sei. Nem tu sabes.
Sei que, uma hora dessas, precisarás se acalmar. Por que gente que corre demais um dia tropeça nas próprias pernas. E nesse momento, se precisares de mim, já estarei a dez mil pés de altura, engolindo refrigerantes sem gás e mastigando petiscos os quais não gostaria de comer. 

Um comentário: