O
vento que uiva entre as frestas de tuas janelas
te
vaia pelas derrotas acumuladas.
Sentes
o gosto amargo do fracasso
em
todas atividades que julgastes dominar.
Teus
olhos se fecham insistentemente enquanto trabalhas
miseravelmente
para morar de forma miserável.
Almoças
o que teu dinheiro compra.
Vendes
mãos, pernas e cabeça para empresas que riem de tuas palavras
e
soterram tuas ambições.
Pintas
de palhaço teu rosto.
Abraças
a ordem irracional e doentia da sociedade
já
que não podes revertê-la durante os momentos
em
que deslizas débil e fraco por ruas esburacadas.
Materializas
armas de fogo imaginárias
para
erradicar a fome, o choro, o frio.
Permites
que sejas um pedaço sonolento de carne
fatiado,
frito e devorado pelos poderosos carnívoros
que
degustam, digerem e defecam toda e qualquer sobra de alma
nos
resquícios de planeta respirante.
Te
arrependes do passado como mãe que torcia a feição para a filha
mendigando
abraços em frente a escola, aos seis anos de idade
e
agora, de cama, sente o corpo quente de sua primogênita ao receber o afago
sincero.
Sentes
medo, angústia, temor e raiva.
Vês
que os olhares desconhecidos evitam os teus,
como
evitas os dos moradores de rua, que exalam carência e suplicam
por
um ouvido que os ouça.
Sentes
que tens mais para ofertar, antes de entregar-se à comunhão dos anjos.
Mas
sabes que não crias novidade alguma.
Só
choras, ri, se revolta como tantos outros já fizeram antes.
E
a mão pesada da realidade atinge teu estômago
para
que te curves, eternamente, àquele que rege a vida dos vivos,
condena
à morte os que não estão mortos e repreende os mortos-vivos.
Àquele
que passeia nos jardins dos transeuntes
cheirando
a expectativa não tocada, inexpressiva e desamparada.
Fizestes da tua vida um altar ao deus Fracasso.