quinta-feira, 27 de junho de 2013

De verso ao verso

Estes versos meus tão puros se confundem com os teus tão belos.
São tão teus estes meus.
São tão meus estes teus.

Ainda assim, por mais que escreva, nunca sou você.
E nem você me é.
Mas somos.
Dois que são.
São poesia e prosa, corpo e alma, mente e coração.
Corpo e alma se confundem.
Mente e coração mentem um para o outro.

Mas todos eles sentem
Sentem que meu verso é teu, seu verso é meu.
E mesmo o nosso verso sabe:
cada verso que escrevo, foi escrito antes em ti.

terça-feira, 11 de junho de 2013

A máquina que objetiva a verdade

Um homem de meia idade, congelado num tempo/espaço não reconhecidos por ele, fazendo chifres com a mão, símbolo do gênero duro que hoje já não é tão duro assim, mas que conversa com o anjo caído do céu, sorri etilicamente para um alguém que não se sabe quem.
A micro tela não sabe das rezas que ele faz à Deus e ao Diabo todas as noites antes de dormir. Xinga o capeta, pede ajuda ao criador. E vice-versa. Não sabe do flerte dele com a morte, após sorver os copos de vinho, sujos, e sair para brincar de ser piloto inexperiente de corrida automobilística. Ah, se essa imagem soubesse das brigas dele com seus irmãos, do pensamento bipolar que vagueia entre os campos cobertos de sangue, carcaças e espadas, e a floresta de brisa fresca e tempo quente.
Por acaso sabe essa fotografia do que realmente é feito esse homem? Sabe da realidade dele? Esses olhos que brilham ebriamente nesse papel recém-pintado nessa impressão bem feita, conhecem a tristeza amarga do que ele é? Não, ela não sabe das viagens dele pelo país, da quantia de latas de cerveja clara e barata que bebeu, dos socos e pontapés que levou e serviu, como um garçom mal humorado. 
Do alto de sua empáfia e soberba, acredita, câmera fotográfica, que reflete a realidade. Não imagina, oh máquina que objetiva a verdade, que a vida não é objetiva. Ela é relativa; navega em águas rasas e profundas da mesma maneira, nos convida pra dançar uma valsa e depois inventa um ritmo novo, só pra ver se a gente aprende o passo ou tropeça e cai. E se cai, ela ri. E, ou a gente ri junto, ou fica no chão e chora. 
A realidade troca de lente e nos fotografa. Muda o foco e fotografa. Dá zoom e fotografa. A câmera faz o mesmo, aluna bem aplicada, dessas que sentam na frente da sala e sempre levanta a mão quando o professor faz uma pergunta. Mas, não importa o que ela mude, a verdade nunca ficará estampada na sua telinha digital.