Um homem de meia idade, congelado num
tempo/espaço não reconhecidos por ele, fazendo chifres com a mão, símbolo do
gênero duro que hoje já não é tão duro assim, mas que conversa com o anjo caído
do céu, sorri etilicamente para um alguém que não se sabe quem.
A micro tela não sabe das rezas que ele
faz à Deus e ao Diabo todas as noites antes de dormir. Xinga o capeta, pede
ajuda ao criador. E vice-versa. Não sabe do flerte dele com a morte, após
sorver os copos de vinho, sujos, e sair para brincar de ser piloto inexperiente
de corrida automobilística. Ah, se essa imagem soubesse das brigas dele com
seus irmãos, do pensamento bipolar que vagueia entre os campos cobertos de
sangue, carcaças e espadas, e a floresta de brisa fresca e tempo quente.
Por acaso sabe essa fotografia do que
realmente é feito esse homem? Sabe da realidade dele? Esses olhos que brilham ebriamente
nesse papel recém-pintado nessa impressão bem feita, conhecem a tristeza amarga
do que ele é? Não, ela não sabe das viagens dele pelo país, da quantia de latas
de cerveja clara e barata que bebeu, dos socos e pontapés que levou e serviu,
como um garçom mal humorado.
Do alto de sua empáfia e soberba,
acredita, câmera fotográfica, que reflete a realidade. Não imagina, oh máquina
que objetiva a verdade, que a vida não é objetiva. Ela é relativa; navega em
águas rasas e profundas da mesma maneira, nos convida pra dançar uma valsa e
depois inventa um ritmo novo, só pra ver se a gente aprende o passo ou tropeça
e cai. E se cai, ela ri. E, ou a gente ri junto, ou fica no chão e chora.
A realidade troca de lente e nos fotografa.
Muda o foco e fotografa. Dá zoom e fotografa. A câmera faz o mesmo, aluna bem
aplicada, dessas que sentam na frente da sala e sempre levanta a mão quando o
professor faz uma pergunta. Mas, não importa o que ela mude, a verdade nunca
ficará estampada na sua telinha digital.
Nenhum comentário:
Postar um comentário