Um
aglomerado de gente olha para o fim do horizonte
crendo
que ali, onde a terra toca o restante do universo
seu
zé descansaria o corpo curvado e ressecado.
Os
passos secos na rua de terra ecoavam nos ouvidos dos vivos e dos mortos.
Range
como quem grita a dor da perda o portão de ferro enferrujado.
Cochicha
baixinho a brisa do verão.
A
vela se desmancha, chorosa, na mão da mulher
que
lidera a multidão solenemente curiosa.
Eles
não veem a escuridão do dia,
apesar
do sol quente que envermelha suas cabeças.
Não
há pedra sobre pedra,
nem
pedra sobre coisa alguma.
Há
sim um silêncio pesado,
como
a pressão nos pulmões de quem mergulha, de súbito, na piscina da morte.
Como
pode a vida acabar-se dentro de uma caixa?
A
vida é como um cachorro
que, cansado
de brincar com um pedaço de osso, cava um buraco, o põe lá dentro
e
tapa cuidadosamente.
Tem-se aqui um bolo de aniversário
de terra
e velas que cobrem o pobre zé.
Pobre
zé.
Nem
sempre quem morre é porque um dia já viveu.
Eternamente
fechados, seus olhos não verão o pranto dos que permanecem deste lado.
Não vêem o menino, curioso, espiando o rito
Não vêem o menino, curioso, espiando o rito
entre
uma fresta generosamente aberta no murinho do cemitério.
mas se zé pudesse ver (e ouvir e pensar),
mas se zé pudesse ver (e ouvir e pensar),
diria,
como disse certa vez o músico
“como
pode alguém morrer no mesmo dia em que nasceu?”
Um texto-imagem.
ResponderExcluir"A vida é como um cachorro..." grande sacada!
Obrigado!
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